O ano de 2024 marca o 50º aniversário da Revolução dos Cravos. Um acontecimento não apenas marcante para o povo português, pois pôs fim a 48 anos de Ditadura, mas com implicações globais, pois tornou-se o epicentro da génese de uma terceira vaga de democratização que alterou substancialmente o mapa político mundial. "A terceira vaga de democratização no mundo moderno começou, implausível e involuntariamente, aos vinte e cinco minutos depois da meia-noite de quinta-feira, 25 de abril de 1974, em Lisboa, Portugal, quando uma estação de rádio tocou a canção Grândola Vila Morena”, escreveu o cientista político norte-americano Samuel Huntington na sua célebre obra The Third Wave. Democratisation in the Late Twentieth Century (1991).
A Revolução portuguesa começou por ser um golpe de Estado liderado por jovens oficiais organizados no Movimento das Forças Armadas (MFA), que não viam saída para uma guerra travada nas colónias africanas de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Mas rapidamente se transformou numa revolução social, fruto de uma aliança entre o Povo e o MFA, construindo aquilo a que Robert Fishman (2019) chama uma "democracia pós-revolucionária", que teve como elemento diferenciador - e transgressor - uma prática radicalmente democrática em relação a outros processos de transição democrática posteriores.
Se, no plano mundial, a rutura iniciada com o 25 de Abril de 1974 abriu caminho à 'terceira vaga' de democratização do mundo moderno, no plano nacional significou a superação da dupla crise de legitimação e de hegemonia que a sociedade portuguesa vivia desde a década de 1960. A mobilização social possibilitada pela Revolução levou a que fossem dados passos de gigante na afirmação dos direitos de cidadania. Este facto resultou na construção de um Estado Providência que, embora incipiente quando comparado com o dos Estados do norte e centro da Europa, alterou a condição social dos portugueses.
No campo próprio das políticas de educação, a Revolução possibilitou uma nova centralidade para as questões educativas, remobilizando as aspirações de acesso aos diferentes níveis de escolaridade, amplificadas pelo discurso meritocrático de Veiga Simão no início dos anos 1970, e abrindo novas frentes nos planos da participação na gestão escolar e da reformulação das estruturas e conteúdos educativos. No período de crise revolucionária, para além de ser palco de acesas lutas políticas, a educação tornou-se um terreno privilegiado para a legitimação da nova situação democrática, procurando mostrar (não apenas ao nível do discurso) uma mudança radical face às anteriores políticas obscurantistas do Estado Novo. Se, nos primeiros momentos após o movimento militar, a ideia era dar continuidade à ‘reforma educativa’ delineada por Veiga Simão no último governo da ditadura (1971-1974), não tardaria a dar-se passos no sentido de tentar elaborar um programa que, no campo da educação, respondesse ao objetivo, então amplamente consensual no discurso político, de construir ‘uma sociedade a caminho do socialismo’, para usar a expressão consagrada na primeira Constituição da República, de Abril de 1976.
Alberto Melo, num texto de 1979, resumiu bem o processo revolucionário: "Portugal viveu então um desses períodos tão raros na vida de todas as sociedades, um período em que tudo parece possível e ao alcance de todos. Derrubado o fascismo - que parecia ser o cúmulo da impossibilidade - tudo o resto se tornou realizável e todos se apressaram a resolver de uma vez por todas os sofrimentos tradicionais da população portuguesa".
É neste contexto que o Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona, e a Associação de História da Educação de Portugal (HISTEDUP) organizam o Colóquio As utopias da revolução de Abril. Educação e mudança social em tempos de transição revolucionária (1974-1976). Os tópicos em debate serão, entre outros possíveis, os seguintes:
A celebração da Liberdade: memórias de um tempo único
A educação de infância e os movimentos sociais. A formação de educadores populares
A reforma das Escolas do Magistério Primário
A gestão democrática das escolas: experiências e conflitos
A Universidade ao serviço das ‘classes trabalhadoras: serviço cívico estudantil e debates (e experiências) sobre o papel do ensino superior
O movimento sindical dos professores. A afirmação dos professores como atores-chave nas políticas de educação
Da segregação escolar à inclusão educativa: o movimento CERCI de pais e educadores
Experiências de Educação Popular. As campanhas de alfabetização
O desporto escolar
O legado colonial nos currículos e manuais escolares
Portugal visto de fora: as organizações internacionais (UNESCO e OCDE) e a Revolução
Datas para submissão de trabalhos
O Colóquio permite dois tipos de contribuição: comunicações individuais e posters.
As propostas de comunicação individual e de painéis deverão ser submetidas online, na plataforma Event3 até ao dia 15 de abril de 2024. As propostas devem incidir em trabalhos de investigação e enquadrar-se em pelo menos um dos tópicos do Colóquio.
As propostas devem conter um título, um resumo e três palavras-chave. Os resumos devem conter até 2500 caracteres (incluindo espaços). Cada investigador poderá constar como autor, no máximo, em 3 comunicações.
As submissões de resumos deve ser feita nesta página da Event3, no item Submissões.
Inscrições
Participantes com comunicação: 50 EUR Sócias/os do HISTEDUP e Colaboradoras/es do CeiED com comunicação: 30 EUR Investigadoras/es Integradas/os do CeiED com comunicação: gratuito Participantes sem comunicação: 20 EUR Sócias/os do HISTEDUP e estudantes e docentes do Grupo Lusófona sem comunicação: gratuito
As inscrições e pagamentos de inscrição devem ser feitas no link:
https://secure.ensinolusofona.pt/rol/f?p=126:1:::::P1_GRAU,P1_INSTITUICAO,P1_CURSO:9,127,1636
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Instituição: Universidade Lusófona - Centro Universitário Lusófona - Lisboa
Curso: Colóquio: As Utopias da Revolução de Abril. Educação e mudança social em tempos de transição revolucionária (1974-1976)
Comissão Organizadora
Alcina Manuela O. Martins, CeiED, Universidade Lusófona
António Teodoro, CeiED, Universidade Lusófona
Ernesto Candeias Martins, CeiED, Instituto Politécnico de Castelo Branco
Joaquim Pintassilgo, HISTEDUP, Universidade de Lisboa
José V. Brás, CeiED, Universidade Lusófona
Maria Neves Gonçalves, CeiED, Instituto Politécnico da Lusofonia
Mário Moutinho, CeiED, Universidade Lusófona
Raquel Pereira Henriques, HISTEDUP, Universidade Nova de Lisboa
Teresa Teixeira Lopo, CeiED-Op.Edu, Universidade Lusófona
Secretariado
Isabela Bertho
Maria Clara Leal
Pedro Fialho